TCHIVINGUIRO + 1 "CAUSO"... O DIA DO REGENTE... E O PRETENSO
CUNHADO...
Lembrando o dia 10 do mês de Junho do saudoso ano de 1966, meu ultimo ano como aluno no Tchivinguiro, um grupo de uns 15 colegas a maioria finalistas, resolveu festejar, com muita raça e Angolanidade, o Dia do Regente Agrícola, em Sá da Bandeira, com uma tradicional "Moamba", servida por encomenda, num restaurante ou bar que ficava entre o centro da cidade e o bairro da Lage, umas três ou quatro ruas paralelas e para baixo da antiga Rua Major Camisão (obrigado Voni por me teres lembrado do nome da rua onde moravas) que até não era muito frequentado por nós mas que foi o único que se propôs, segundo os colegas encarregados da organização do almoço, a preparar a "Moamba".
Entre os participantes estava um colega, que não descia para a cidade há mais de um mês e que entrara em desespero ao ver quase perdidas as dispensas de oito exames finais por causa das escapadas frequentes à cidade para marcar presença junto da namorada, que morava para aqueles lados perto da Roda, restaurante com pretensões boémias, pertencente ao nosso amigo Jacinto (não confundir com a Royal, que também era do Jacinto).
Continuando o "causo" e segundo ainda esse colega que tinha o hábito antigo de outros anos, de se isolar no Tchivinguiro, no ultimo mês de cada período, para recuperação das notas perdidas, esquecendo e suspendendo as escapadelas para Sá da Bandeira, as visitas às namoradas, antigas e à actual, facto que muito desagradou a titular da época, ao ponto de ter imposto um "ultimatum" ao dito cujo colega:" só vais ao almoço, se levares o meu irmão, senão acaba o nosso namoro , já!"
Perante tão ditatorial e feminina determinação, não teve o nosso colega outro remédio, para não perder o almoço e a namorada, senão levar o candidato a cunhado ao almoço de homenagem aos Regentes Agrícolas e, assim, lá seguiram para o restaurante, o nosso colega e o candidato a cunhado a tiracolo, um rapazote dos seus 15 ou 16 anos magrote e espinhento, prenuncio do início da puberdade, mas muito bem vestido, nos trinques, era hábito da família, o pai e o rapazote só calçavam peúgas brancas e naquele dia o rapazinho vestia um casaco branco, esporte, acabadinho de sair do manequim do Figurino da Huila, camisa também branca e calça castanho tabaco, com mocassins castanhos,a combinar, e as já referidas peúgas brancas! Detive-me no figurino porque duas das peças são fundamentais para o desenrolar e compreensão do "causo" e não porque eu entenda de moda!
Chegados ao restaurante e apresentado o candidato a cunhado, logo uns três colegas resolveram adotar e cuidar do referido, integrando-o no conjunto com um brinde saudado com um copázio de Sanguinhal...ao som de um "vira, ó vira"...e deu-se início à comilança e ao "viranço" também!
O almoço prosseguiu entre discursos e copázios, garfadas de "Moamba", gritos de praxe, por tudo e por nada e o moço que estava aos cuidados dos tais colegas, perante tantos extremismos, aos quais não estava habituado, desabou em cima do prato com a cara enfiada numa mistura repugnante de vómito amarelado, laivos rosáceos de vinho e restos de "Moamba"! Bem, antes que vocês me xinguem por descrição tão nojenta, vou pular esta parte e começar a contar a nossa preocupação em dar um aspecto apresentável e limpo ao infeliz do coitado, que nesta altura, já só era uma nódoa amarelada de tanto vómito em cima dele mesmo, que nem as peúgas brancas escaparam!
Como ele não estava totalmente desacordado, só enjoado, alguém sugeriu que talvez fosse bom lavar o casaco e a camisa, num tanque existente no quintal nos fundos do restaurante! Sugestão aceite, lá foi um grupo lavar o casaco e a camisa esfregando-os com sabão de coco, em barra, na pedra do tanque batalhando para limpar as manchas existentes e proporcionar um aspecto mais saudável e decente ao vestuário já descrito . Após lavados, camisa e casaco, foram postos para secar, pendurados num arame, presos por molas... e a festa continuou, para nós outros, já que o candidato a cunhado mergulhou num sono profundo e reparador, debruçado sobre a mesa, semi despido!
Lá pelo final da tarde, fomos retirar do arame a camisa e o casaco, quase secos ao que a esposa do dono do restaurante, gentilmente, nos emprestou um ferro de passar e uma tábua para darmos um aspecto mais apresentável às peças e vesti-las no rapazinho, já mais firme nas canelas e se aguentando de pé!
Só que o visual era deplorável, o casaco continuava manchado e, pior, tinha encolhido formando pregas onduladas na lapela, na gola e nas ombreiras, mal servindo no rapazinho, ficando a cintura no peito ou vice-versa o peito na cintura, e o encardido amarelado da camisa aparecendo por entre as lapelas da gola...mas, mesmo assim, lá conseguimos vestir a camisa e o casaco no coitado, apesar dos seus protestos e da firme determinação do nosso colega: "eu te fui buscar vestido e vou-te devolver...vestido!" e descemos todos em grupo, aquela avenida do Liceu, a pé, já principio da noite, atravessando a praça onde ficava o Palácio do Governo, descendo em direção ao "Picadeiro" lotado de amigos, amigas, colegas e simples desconhecidos, dando explicações a quem as pedia e queria, sobre o visual daquele que tinha sido nosso convidado, por imposição e intransigência feminina.
Mas o mais difícil estava para vir, quem e como iriam entregar a "encomenda" no seu domicílio, enfrentar a namorada, a mãe e, quiçá, o pai dele?
"Ó meu amigo, a namorada é tua, o sogro é teu, portanto o problema também é teu"... e após uma breve conferência largamos o nosso colega e o candidato a cunhado na porta do prédio onde ele morava, mas ainda a tempo de escutar a namorada do colega, chamando: "Mãezinha, vem cá abaixo ver o que eles fizeram com..." e os impropérios se foram perdendo na distância das nossas passadas apressadas, nos afastando do lugar, a caminho de outra farra!
Como terminou este "causo"? Simples, o namoro do nosso colega acabou e ele nunca nos disse o que tinha escutado da namorada e da pretendente a sogra, mas nem tudo foi perdido, o nosso colega conseguiu dispensar de todos os exames! Assim o prejuízo não foi total! O que aconteceu com a namorada? Anos mais tarde casou com outro colega nosso... e o irmão? Deve estar bem, nunca mais o vimos...saudades para todos e ... aquele abraço com a nossa homenagem a todos os Regentes Agrícolas, hoje Engenheiros Técnicos Agrários, pelo nosso dia, 10 de Junho de todos os anos passados e vindouros, da Raça e do Camões!
Ao Alto, Ao Alto ! Charrua!
E quem somos nós? Regentes educados muito quietos e calados...ai somos?
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