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TCHIVINGUIRO + 1 "CAUSO" ... A VIAGEM INESQUECÍVEL! (2) VAMOS A VER SE OS AMIGOS E COLEGAS AQUI CITADOS AINDA SE VÃO LEMBRAR DESTE "CAUSO". by Antero Sete

"Aos meus amigos quero agradecer o retorno e os comentários sobre este "causo" no qual eu próprio não "botei muita fé", por achá-lo pouco interessante! Mas é isso aí, vocês me surpreenderam!
Aquele abraço, do Sete!"

Continuando a narração do "causo", lá fomos nós portando e tomados daquela ansiedade receosa, a caminho da Robert & Hudson, preparados para o pior...
Chegados, cheios de cerimónias como se fossemos ver o Papa, fomos saudados pelo gerente com um "tá pronto!" enquanto se dirigia para o interior da oficina e nos mostrava o "Fusquinha", brilhando, porque até lhe tinham dado um banho! (Ai Jesus, pensei eu, vamos ter que deixar o "Fusquinha" e voltar a pé!)...
Ó! Que bom! Muito obrigado! E nós com aquele sorrisinho amarelo, a modos de quem está com dor de barriga, agora a parte mais dolorosa... quanto devemos? Minutos, talvez nem minutos mas segundos de angustia perante a cara gozadora do gerente que se abriu num sorriso e disse..."nada! Boa viagem!" O quê? Não podia ser, afinal vocês trocaram as peças com defeito, até o pneu foi substituído... ainda lavaram o carro...não dá para entender, o que é isso? (E eu rezando para que fosse mesmo isso!) Pois que era isso mesmo, respondeu o gerente, se vocês quiserem deixem um "matabicho" para os mecânicos que cuidaram do carro...e boa viagem! E foi o que fizemos antes que ele, gerente,se arrependesse, depois de muitos agradecimentos e promessas de amizade e reconhecimento eternos, que não sei se alguma vez foram cumpridas, lá nos pusemos a caminho devidamente saudados pelo "Ao Alto, Ao Alto! Charrua" e pelos PH! 6,6,6! berrados pelos nossos colegas que nos acenavam desejando melhor sorte para o final da viagem!
Assim, por volta das 15 horas estávamos saindo de Nova Lisboa com destino a Luanda, numa bela pista asfaltada, carro revisado, dinheirinho no bolso, logo logo passando por Chitatamera, (até hoje não sei de onde tiraram esse nome), o que não impediu que por associação sonora soltássemos a voz num caprichado... "Guantanamera/Guajira, one Guantanamera/One Guantanamera/Guajira, one Guantanamera/ Yo soy un hombre sincero/Guantanamera...) canção e música que estava muito em voga na época e que nos embalou em muitos bailaricos. Rápidamente passamos por Hunguéria (outro nome que não sei de onde veio), Alto Hama a caminho da Cela, onde pretendíamos parar para abastecer e comer alguma coisa no posto da Sacor e foi o que fizemos, calculando que por volta da meia-noite estaríamos já em Luanda!
Nada como um carro rodando seguro e vistoriado de borla pela Robert & Hudson, uma boa estrada com belas paisagens para apreciar e rápidamente deixamos a Quibala e o seu forte lá no alto da pedra á nossa direita mas que infelizmente não íamos poder visitar porque estávamos ansiosos para chegar a Luanda!
Deixamos o Lussusso para trás a caminho do Dondo mas, naquela descida que antecedia a reta que dava acesso ao Dondo a luzinha vermelha do painel acendeu avisando de que alguma coisa não estava em ordem no motor, enquanto que o ponteiro que indicava a temperatura galgava célere para o seu ponto máximo, não restando outra alternativa a não ser encostar na beira da estrada e ir verificar o que estava acontecendo, maldizendo como não lembramos de incluir uma lanterna na caixa das ferramentas, que também não existia, mas apesar da escuridão conseguimos ver que desta vez tinha sido a correia da ventoinha do motor que dera o berro, ressequida e quebrada! O que fazer? Só nos restava esperar para que alguém passasse e parasse para nos socorrer, o que não tardou muito e logo no lado oposto da pista encostou um camião, seguido de mais dois ou três, cujos motoristas se juntaram a nós, em reunião, lamentando não poder ajudar, já que as correias que eles tinham eram muito grandes e não serviam para o nosso carro, apesar que um deles, cheio de boa vontade, ia trançando uma trança com duas cordas para substituir a correia e assim nós poderíamos chegar até ao Dondo, artimanha essa que apesar da boa vontade não deu certo. Enquanto isso, mais e mais camiões iam parando à beira da estrada e aquele bom espirito comum de solidariedade dos camionistas ia-se revelando através da ajuda e das frases de animo que nos eram dirigidas, todos querendo ajudar mas ninguém resolvendo nada, não por falta de vontade mas pelas circunstâncias do momento, até que um deles sugeriu o que parecia ser o mais óbvio: "olhem estou indo para Luanda, um de vocês pega uma boleia comigo até ao Dondo, deixo-o ficar no posto, onde ele pode comprar uma correia e pega uma boleia de volta com algum companheiro que venha para estes lados!" Parecia ser o mais lógico até que um automóvel ligeiro parou mais na frente e dele saiu um sujeito que para nosso espanto foi logo dizendo:"Selminha! O que você está fazendo aqui?" Era um amigo da família do Rui Flora, que após se inteirar do que estava acontecendo logo se prontificou a continuar viagem, levando a Selma para casa, malandro, e sem pensar em nos ajudar! Deixa esses malucos aqui, ao que a Selma e o Flora se opuseram dizendo que iam continuar connosco, até que o referido senhor, após muita conversa, aceitou levar a Selma e o Flora até ao Dondo, ajudá-los a procurarem uma correia e trazê-los de volta e à correia também, para que pudéssemos colocá-la no lugar com a ajuda dos camionistas, já que sem caixa de ferramentas e sem as ditas cujas, apenas tínhamos os ferros desmonta e o macaco, não seria possível desaparafusar a polia e colocar a correia. E foi o que foi feito enquanto eu, o Fausto e os camionistas esperávamos e papeávamos junto do "Fusca" (até descobri que entre eles estava um amigo do meu saudoso padrinho o jornalista Albuquerque Cardoso e como prova sacou da carteira o cartão de visitas que o meu padrinho lhe havia dado).
Lógico que a nossa previsão de chegada a Luanda já era, porque o relógio marcava 23 horas e 30 minutos e nós de papo com os camionistas, sentados no asfalto da beira da estrada, esperando a Selma e o Flora que chegaram quase à meia noite, depois de terem saboreado uns cacussos na varanda do hotel, à beira Cuanza e para nós não trouxeram nem as espinhas!
Colocada a correia, operação meio complicada e com muitos e variados palpites, dados por todos porque tínhamos de acertar a posição e a ordem de colocação das anilhas que esticavam a correia, agradecemos e nos despedimos com muitos apertos de mão e abraços dos nossos mais recentes amigos e continuamos viagem, escoltados até ao Dondo pelo amigo dos Floras e daí para a frente depois de um aceno o sujeito pôs o pé na tábua e nunca mais o vimos!
E nós seguimos na escuridão da noite, passando por Zenza do Itombe, Calomboloca, nem paramos para comprar as docinhas laranjas e os saborosos maboques das quitandeiras que já não estavam mais à beira da estrada, dormindo o sono justo de quem não tinha TV para assistir e nem luz elétrica para prolongar o dia, Catete, dizem que aqui nasceu o Agostinho Neto, Viana, onde anos mais tarde o meu amigo Carvalho ex-Ecomar instalou uma fábrica de sapatos femininos e por fim Luanda, quando no dia seguinte, isto é, no mesmo dia, no fim da tarde entreguei o "Fusquinha" para o "Esgoia" e essa foi a ultima vez que me despedi e abracei o meu amigo e nosso colega que uma bala traiçoeira o levou deste mundo, durante uma emboscada!
O que nos ficou desta viagem foi a solidariedade, a vontade de ajudar que recebemos de pessoas que nem conhecíamos e que em troca não esperavam nada de nós a não ser um sorriso e um abraço agradecido por tantas gentilezas recebidas, um espirito bem português e típico de quem vivia em Angola, independente de raça, religião e posição social, transpondo as "Portas do Tchivinguiro" e abrindo corações para o resto de Angola!
Outros detalhes que eu não lembrei poderão ser fornecidos pelos nossos colegas Fausto Costa, que mora em Portugal e pelo Rui Flora e a sua irmã Selma, algures, talvez em Angola.
Aquele abraço!

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