TCHIVINGUIRO + 1 "CAUSO'...A ORIGEM DA PALAVRA "CAPIANGO"!
A sequência de "causos" está-se tornando um enredo muito semelhante a uma tigela cheia de tremoços, quando se come um não se consegue parar mais até comer o ultimo e, se forem acompanhados com uma cervejinha estupidamente gelada então...
Pois é, então vamos substituir os tremoços e as cervejas pelos "causos" que os nossos colegas me vão enviando e lembrando, para que não fiquem mofando na memória de poucos e sejam ventilados pela curiosidade de muitos.
O de hoje foi-me sugerido pelo nosso colega José Azevedo "Pica-Pau", causado por um outro nosso colega José Vilela de Freitas "Tecto", infelizmente já falecido vítima da "exemplar descolonização" e da brutalidade humana!
O "Tecto" era meu contemporâneo e colega de turma, entramos juntos para o Tchivinguiro. Possuidor de uma inteligência fora do comum era considerado pelos professores como um dos alunos mais inteligentes e dedicados da época.
A sua alcunha "Tecto" ficou registrada pelo solene e tradicional baptismo ministrado por Sua Excelência o Reverendo e Primeiro Bispo do Tchivinguiro e Caholo "Dom Esgueira", também chamado de Rodolfo Romão Veiga.
Chamávamos o Vilela de "Tecto" devido a um problema que ele tinha na visão, que o obrigava a colocar a cabeça levemente inclinada para o lado e ligeiramente erguida, dando a impressão que estava a olhar para o alto, podendo assim ter uma visão melhorada de tudo o que o cercava ao redor e acima da sua cabeça e, por isso, ficou "Tecto".
Lembra o "Pica-Pau" que a palavra "capiango" que em português se traduz por roubar, surrupiar, tem origem Banto e que também se usa no Uruguai ("Causos" também são cultura!), embora o acto em si esteja institucionalizado por alguns politicos universais...
Mas voltando ao "Tecto" estava ele a "capiangar" maçãs reinetas naquele pomar que ficava separado por uma vala, para baixo daquela estrada de eucaliptos que marginava lateralmente o nosso campo de futebol, que não era padrão FIFA e cujo gramado inexistente foi substituído pela mais pura e original terra Tchivinguirense (nós prestigiávamos as raízes), quando percebeu um vulto azul caminhando furtivamente por entre os troncos dos eucaliptos, em direção ao pomar, só que esse vulto era do nosso querido e saudoso director Dr. Pablo, carinhosamente chamado de "Batuta", que via de regra costumava se proteger do frio com um jaleco de malha azul marinho, e que avançava na perspectiva de surpreender em flagrante actividade de "capiango" um "capiangador" confesso.
E o "Tecto", na sua ingenuidade segundo o "Pica-Pau" e na sua criatividade, segundo eu "Sete", sabendo que não tinha como nem para onde fugir, decidiu subir numa pequena árvore que vegetava perto do pomar e pendurar-se de cabeça para baixo e esperar a chegada do "Batuta" e do consequente sermão.
Perplexo com o tamanho da atitude insólita, o "Batuta" chegou mais perto e questionou o "Tecto": "Ó Vilela, o que estás aí a fazer pendurado de cabeça para baixo?" ao que o "Tecto", aí sim, chamando toda a sua ingenuidade respondeu: "Era para o Sr, Director não me reconhecer..."
Contam os observadores de plantão, que o "Batuta" ficou estático por segundos, depois deu meia volta abanando a cabeça e soltando sonoras e alegres gargalhadas entrou na "station" e lá foi dirigindo e rindo!
Meu amigo José Vilela de Freitas,"Tecto" para todos nós descansa em Paz onde quer estejas e recebe este "causo" como um tributo de admiração, amizade e homenagem dos teus colegas e amigos José Azevedo "Pica-Pau" e Antero "Sete"!
Aquele abraço.