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Greve de Fome no Tchivinguiro

A greve de fome no Tchivinguiro

Aceito o pedido do colega Manuel Duarte no site do Tchivinguiro para partilhar com toda a malta "tchivinguiresca" duas pequenas estórias que marcaram o início do ano lectivo de 1964/65, era então Director da Escola o Eng. António Nunes Pissarra (não confundir com o Eng. Pissarra Gouveia).
Estou certo que muitos colegas o recordarão como prof de Agrologia, ex-Secretário de Estado da Agricultura e ex-prof da Escola de Regentes Agrícolas de Évora. Embora boa pessoa, simples,justa e muito recta, tinha uma clara dificuldade em lidar coma malta.
Acresce o pouco ou nada que sabia de Angola já que tinha acabado de chegar de Portugal.
Sem saber muito bem onde se tinha metido, fazia das tripas coração para impor regras muito rígidas, algum autoritarismo (vulgar na época...) e, talvez, excessivo rigor enquanto
gestor. Saiu-se mal, e logo no 1º ano da sua comissão de serviço, ao ter de fazer frente a uma greve de fome e assumir a pesada responsabilidade de expulsar da ERAT uma meia dúzia de colegas.

1. Greve de fome
Ainda não havia 1 mês de aulas, o director não conhecia os cantos à casa (Caholo? O que é isso?... Tondo? Quem é?), quando é confrontado
com a primeira greve de fome da historia da Escola!!! Com uma adesão quase a 100%, a malta resolve fazer uma marcha de silêncio com o Romão Veiga, Borges da Cunha e outros "mais velhos" à frente. Após rápida mobilização, saímos da sala de jantar já noite cerrada e percorremos o bairro dos profs em silencio sepulcral. Continuámos pela zona envolvente da casa do director, demos a volta pelo Pavilhão de Aulas e terminámos à frente do internato. Não nos foi permitida a entrada.
Junto do portão de ferro estava o director, vermelho de cólera e o Picuínhas, vermelho de pânico. Após uma troca azeda de palavras, de queixas e mais queixas sobre a má qualidade das refeições, lá conseguimos entrar e receber a promessa de que iríamos passar a ter
uma melhoria na comida. ...de que iríamos passar a ter uma melhoria na comida. Claro, a promessa só durou uma semana;

2. Expulsão
O director resolvera, ao fim de alguns meses de intenso e muito cansativo trabalho na Escola, sair do Tchivinguiro e ir arejar a mona até Sá-da-Bandeira. Enfim, um fim-de-semana longe da malta só lhe faria bem. No regresso o Eng. Nunes Pissarra estranha a casa.
Na verdade, alguém tinha usado a sua cama, deixado alguns livros fora do lugar, a geleira vazia e as bebidas alcoólicas tinham desaparecido. Do processo de averiguações que se seguiu veio a saber-se que tinha sido um grupo de 6 ou 7 colegas que, após uma carraspana de caixão à cova, tinham conseguido entrar por escalada no interior da casa. Uma vez descobertos, não tiveram atenuantes: expulsão!!! Assim mesmo, expulsão de toda a malta! Todavia, parece que há males que vêm por bem, a acreditar na sorte de um dos expulsos, o saudoso Raul Abreu Chaves, que já em Sá-da-Bandeira resolveu jogar na lotaria e veio a ganhar o 1º prémio, cerca de 500 contos, que deram para comprar, entre outras coisas, um Renault Gordini (se a memória me não falha) e os restantes colegas conseguiram a readmissão sem prejuízo do aproveitamento
escolar.

Um abraço,
Calabeto
(cgabreu@utad.pt; calabeto.abreu@gmail.com)

Comentários postados:

Amigos e Colegas da ERATchivinguiro,

Não garanto que estas duas estórias estejam correctas a 100%. São já passados 45 anos sobre os acontecimentos!!!É muito tempo e a memória vai faltando, cada vez mais...
Cá fica, então, o pedido para todos os colegas dos anos 60's, que ainda se lembram destes episódios, para acrescentar (ou mesmo alterar) dados a estes episódios tão intensamente vividos na nossa Escola.
Um abraço a toda a malta tchivinguiresca espalhada pelo Mundo,
Calabeto
Thursday, August 13th 2009 @ 4:29 AM

Posted by Sergio Fernandes (Gabelas):

Se a memória não me falha a greve de fome foi no dia 13 de Out. de 1964, quinta-feira. Porquê quinta-feira?
Passamos a sexta-feira zanzando pelos pomares, o Eng.Piçarra(Piçarrinha) deslocou-se a Sá da Bandeira possívelmente para consultar o Governador, serviços de educação ou quem quer que tenha sido,enquanto o nosso amigo Dr.Manuel Fernandes(Melões) articulava acordos com alguns de nós,não me lembro quem,para que terminássemos a greve,impedindo assim uma possível ida da P.I.D.E ao Tchivinguiro.No sábado à tarde,reunidos na sala de jogos,após breves acordos, o Piçarrinha de pé, em cima da mesa de ping-pong,fez um discurso breve de agradecimento,e,chorou.
Recordo a cena como se hoje fosse içarrinha entrando no refeitório vestido no seu casaco grosso, o Tony Simão atrás(onde se encontra esse malandro?),sentou-se à mesa, foi servido,comeu,saiu como entrou,deixando a batata quente para o Tony;este, então transmitiu a mensagem nosso diretor disse que a carne estava boa,podíamos comê-la. Nessa altura ,já havia burburinho,quando caíu um candeeiro petromax (faltava energia eletrica) colocado mais ou menos acima da mesa onde eu estava sentado,bem atrás das minhas costas.Foi o estupim.Todos nos levantámos iniciando assim a greve.Alguns de nossos colegas não aderiram,não sei se por serem bolsistas, ou outros motivos?Atacamos os pomares,armários,despensa,por falar em despensa havia uns expert nesta atividade,Nada,Poupinhas,e mais outros. Tento recordar-me quais os colegas que compunham
a mesa onde me sentava:chefe Cauita,Sambinha,Puto Fonseca,Henrique Vaz,Coimbra e eu.
Friday, September 4th 2009 @ 7:50 AM

Posted by Ribeiro Maluco:

Posted by António Jorge Santos Ribeiro(Ribeiro Maluco):
A Marcha de Silêncio que se realizou conforme o Calabeto escreveu e bem foi um evento bastante significativo para todos nós que participamos. Mas somente alguns souberam que alguns dias depois aparecerm na Escola 2 Agentes da PIDE para interrogarem alguns de nós. É que, apesar de na altura não sabermos, a Rádio Moscovo anunciou no dia seguinte que os alunos de uma Escola Agrícola no Sul de Angola , descontentes com a política portuguesa, manifestaram-se com uma marcha de silêncio. Isto soubemos nós depois dos interrogatórios da PIDE.Quanto aos interrogatórios foram realmente muito engraçados.... Os agentes da PIDE perguntavam ... então o senhor está descontente com a política e nós na nossa ingenuidade política , respondíamos que sim que estavamos FARTOS DA MARMELADA...e os agentes ficaram mais intrigados...até que tivemos que esclarecer . Sr. Agente o que nós não queremos mais é comer marmelada como sobremesa, queremos é FRUTA... mais confusão... Mas que FRUTA, perguntavam os agentes da PIDE ?? Fruta dos pomares , temos aqui boa fruta e estes gajos querem-nos enfrascar de marmelada...Estamos fartos.. Foi um tormento para explicar aos PIDES que a marcha de silêncio não tinha nada a ver com política , mas sim uma marcha convocada à pressa para reclamarmos uma melhoria das refeições , principalmente da sobremesa, pois andavamos fartos da marmelda que muitas vezes nos davam.Um abraço a todos os colegas do Ribeiro
( Maluco)
Friday, September 4th 2009 @ 8:55 AM

Posted by Joao Fonseca:

Ribeiro, so um pormenor, nao era marmelada mas sim goiabada.
Aquele senhor o Correia chefe da copa e da cozinha andava louco com a situacao, pen-
sando que o iam culpar por tudo.
Duas semanas depois deste acontecimento,
houve um baile no salao do Liceu Diogo Cao,e a titulo de reconciliacao, um grupo da nossa malta foi oferecer uma garrafa
de whiskey ao Pissarrinha que estava la com a familia como convidado de honra.
A filha, lembram-se? Uma garota baixinha e bonitinha disse imediatamente para o pai,nao ves que e uma das garrafas que esses tipos nos roubaram ! Lembro-me como se fosse hoje.
Bons tempos, ate a PIDE ficou meia confusa com a nossa malta. Foram para averiguar e esclarecer e sairam mais confusos !!!!!!!!
Greve !!! Goiabada !!! Descontentamento com o regime !!! Fruta do pomar !!!,devem
ter pensado que estavamos a falar em codigo.COMO ME DA SAUDADES DOS NOSSOS TEMPOS DE ESCOLA.
Um abraco a todos.
Wednesday, January 13th 2010 @ 9:44 PM



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